O Bacalhau

Ver Carrinho

Símbolo nacional

“Os meus romances, no fundo, são franceses, como eu sou, em quase tudo, um francês — exceto num certo fundo sincero de tristeza lírica que é uma característica portuguesa, num gosto depravado pelo fadinho, e no justo amor pelo bacalhau de cebolada!”.

Eça de Queiroz em carta para um amigo, 1884

O Bacalhau é o peixe dos peixes

Símbolo de fortuna e de prosperidade. Abundância e escassez. Ecologia e negócio. Alimento e cultura. Realidade e lenda.

Como pode um peixe inexistente no mar português tornar-se um ícone de Gastronomia e símbolo de identidade nacional? A resposta está na História. 

Se é verdade que o consumo de bacalhau, em Portugal, começou a generalizar-se a partir do séc. XVI, o primeiro contato com este peixe está na antiguidade. O bacalhau terá chegado à Península Ibérica através dos Vikings, que trocavam este peixe por sal.  

Mais tarde, com os descobrimentos, os portugueses foram pioneiros na armação de barcos para a pesca na designada Terra Nova do bacalhau. A partir daí, a faina tornar-se-ia uma atividade económica de longo curso, não só de portugueses, mas também de espanhóis e franceses, entre outros, na Terra Nova e no Labrador. 

Nas décadas de 50 e 60 do século passado, graças ao impulso do Estado Novo, a pesca do bacalhau atingira o seu auge. As frotas de lugres bacalhoeiros garantiam a pesca de 70% do consumo nacional de bacalhau, contribuindo para que os portugueses se tornassem os maiores consumidores mundiais deste peixe.

E o bacalhau, tornou-se o “Fiel Amigo”, símbolo da cultura e da portugalidade. 

O Fiel Amigo

SÍMBOLO NACIONAL

As práticas religiosas muito presentes em Portugal foram decisivas no processo que determina o Bacalhau como símbolo máximo da cultura portuguesa. A abstenção de carne em períodos pré-determinados, levou os portugueses a procurar outras alternativas de consumo.

Mais acessível do que o peixe fresco, o bacalhau foi a solução para todas as camadas da população. Dos mais abastados aos mais desfavorecidos.

Hoje consomem-se em Portugal cerca de 60 mil toneladas de bacalhau por ano, o que torna os portugueses os maiores consumidores de bacalhau per-capita no mundo.

A expressão “fiel amigo” foi documentada há mais de 200 anos na literatura popular de cordel.

Nos suplícios de Judas, orações populares ditas em público nos rituais de queima de Judas, no sábado de Aleluia, celebrava-se o fim dos “dias de magro” associados à quaresma, tornando-se o bacalhau o alvo da sátira popular, ou em que o “fiel amigo” ia ser enterrado.

As origens difusas da parábola do “fiel amigo” radicam nesta transversalidade do consumo de bacalhau e, sobretudo, na sua acessibilidade de preço, na facilidade de conservação e na proteção que dá aos estômagos e às almas.

(Álvaro Garrido, historiador).

Museu de Marítimo de Ílhavo

O Museu Marítimo de Ílhavo (MMI) nasceu a 8 de agosto de 1937. A sua missão consiste em preservar a memória do trabalho no mar, promover a cultura e a identidade marítima dos portugueses.

https://museumaritimo.cm-ilhavo.pt/

Navio Santo André

O Navio-Museu Santo André é um pólo do Museu Marítimo de Ílhavo. Fez parte da frota portuguesa do bacalhau e pretende ilustrar as artes do arrasto. Este arrastão lateral (ou “clássico”) nasceu em 1948, na Holanda, por encomenda da Empresa de Pesca de Aveiro. Era um navio moderno, com 71,40 metros de comprimento e porão para vinte mil quintais de peixe (1200 toneladas).

https://museumaritimo.cm-ilhavo.pt/pages/33

Navio Hospital Gil Eanes

Funcionou como navio de apoio à frota bacalhoeira entre 1955 e 1973. Foi musealizado em 1998, em Viana do Castelo, onde hoje se encontra.

https://www.fundacaogileannes.pt/engine.php?cat=1

Datas comemorativas e o Bacalhau

O bacalhau e o Natal 

A tradição de consumo de Bacalhau na noite de Natal está fortemente enraizada em Portugal, bem como nas comunidades onde está presente a cultura portuguesa.

Ao longo dos séculos, a influência cristã ditou a regra do jejum e da penitência na preparação dos feriados religiosos, como o Natal, levando as pessoas a absterem-se do consumo de alimentos considerados mais nobres, como era o caso da carne.

No jantar da Consoada, a 24 de Dezembro, precisamente antes da celebração natalícia da meia-noite, o bacalhau impôs-se como a refeição por excelência, até por ser, em pleno inverno, um peixe disponível para toda a população. Todos os estratos sociais tinham acesso ao “fiel amigo”, que se assim se instituiu ícone gastronómico do Natal.

O bacalhau e a Páscoa

Tal como no Natal, também na celebração da Páscoa o Bacalhau se tornou alimento de referência.

A mesma herança religiosa do jejum e penitência, associada ao período da Quaresma (principalmente em dias muito significativos como o da Sexta-feira Santa) tornou o Bacalhau uma das opções preferenciais, em detrimento das carnes.

Em Portugal e nos países onde está presente a cultura portuguesa, esta tradição de origem religiosa acabou por disseminar-se, ao ponto de o bacalhau se tornar, até, o alimento de celebração do Dia de Páscoa, como acontece em algumas regiões e países, por exemplo, no Brasil.

#VoltaaPortugalemBacalhau