O Bacalhau
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A Salga portuguesa
Inglaterra e Portugal, no século XIV, possuíam tratados de comércio para a troca de sal por bacalhau.
O povos do norte da Europa tinham comércio de bacalhau seco e salgado seco, mas eram pouco relevantes os fluxos e menos sistemáticos do que a rede de negócios estabelecida em campanhas de pesca de bacalhau por armadores portugueses, bascos e da Grã-Bretanha, nomeadamente no séc. XVI.
As grandes navegações
Os principais indícios, dizem que em pleno século XIV, dos primeiros barcos portugueses a pescar nos mares da Inglaterra, surgiram também as conhecidas grandes navegações.
Na tentativa de encontrar o caminho marítimo das Índias, pelo oeste, os portugueses se depararam com a conhecida Terra Nova, que hoje pertence à província da Terra Nova e Labrador, no Canadá. Navegando assim, em águas ricas de bacalhau.
Paralelamente, no século XV e XVI, com os descobrimentos, o Bacalhau tornou-se um importante alimento para as tripulações portuguesas. Salgado, seco e de fácil transporte, o bacalhau ou “fiel amigo”, se mantinha conservado durante os longos períodos das grandes viagens. Era sem dúvidas, uma importante fonte de subsistência.
Rota de João Vaz Corte Real rumo a Terra Nova.
https://socientifica.com.br/2017/04/17/descobrimento-da-america-portugueses-no-canada/
O Bacalhau nos séculos XV e XVI
Quem consumia Bacalhau nos séculos XV e XVI?
O bacalhau era um produto de um consumo relativamente transversal, embora mais da nobreza e dos clérigos. Há também referência ao bacalhau seco nas listas de compras dos hospitais e das Santas Casas da Misericórdia portuguesas.
Pintura de de Josefa d’Óbidos e/ou Baltazar Gomes Figueira, de 1668, identificando um bacalhau escalado e seco Seca de bacalhau em Alcochete , década de 40
A lendária frota Bacalhoeira
Há registos de navios portugueses e campanhas de pesca do bacalhau, de 1930 a 1976, devidamente documentados no diretório do Museu Marítimo de Ílhavo.
Durante o período de maio a setembro, encontravam-se grandes frotas de barcos bacalhoeiros nos mares da Terra nova e da Gronelândia. Estes são os tempos lendários da pesca portuguesa do bacalhau, que devida as restrições de afastamento dos bancos de bacalhau, impostas pela rainha Isabel I de Inglaterra, mudam drasticamente. Criando uma instabilidade que se prolonga até ao século XVII.
Navio Bacalhoeiro Creoula
O Creoula é ainda hoje um nome lendário na pesca do bacalhau. Este lugre-bacalhoeiro português foi lançado à água em 10 de maio de 1937 e, até 1973, realizou 37 campanhas de pesca no Atlântico Norte. Um verdadeiro símbolo de história e cultura, continua no ativo como Navio de Treino de Mar (NTM) da Marinha portuguesa.
Dimensões
- COMPRIMENTO FORA-A-FORA: 67.40m;
- COMPRIMENTO DO CASCO: 62.64m;
- BOCA MÁXIMA: – 9.90m;
- PONTAL: 5.90m;
- CALADO: 4.70m;
- ALTURA DOS MASTROS: 36.00m;
- SUPERFÍCIE VÉLICA: 1244m2.
A pesca do bacalhau, também conhecida como Faina Maior, de forma continuada, reiniciou-se em Portugal em 1872 pela Bensaúde & Cia. e em 1885 pela empresa Mariano & Irmão, que, contestando o monopólio dos importadores, começaram a enviar veleiros todos os anos à Terra Nova.
Curiosamente, mais tarde a Riberalves chegou a comprar todo um carregamento do Navio Neptuno, pertencente à Parceria Geral de Pescarias do atual grupo Bensaúde. O “Cash&Carry” que originou a Riberalves também viria a fornecer mantimentos para as frotas armadoras.
Bacalhoeiro Neptuno Navio Bachalhoeiro Argus
A Pesca num Dóri
Os primeiros registos de pesca num Dóri são de 1870.
O dóri era uma embarcação tripulada por apenas um homem, onde a bordo dele os portugueses desenvolviam a heroica pesca do bacalhau. Estes pequenos barcos, de fácil construção e relativamente frágeis, eram transportados para os grandes bancos de pesca pelos bacalhoeiros, “barcos-mãe”, e chegavam a ser empilhados entre 50 e 60 dóris. Diariamente, cada dóri era lançado à água com o seu tripulante, para uma pesca à linha onde se enfrentavam grandes desafios, como as tempestades e o frio, o nevoeiro, os icebergues ou até as baleias. Muitos pescadores nunca regressaram à casa! No final de cada dia, o bacalhau pescado nos dóris era escalado e colocado no sal, no porão dos bacalhoeiros.
O Estado Novo e a volta ao Mar
A campanha do bacalhau foi fortemente estimulada pelo Estado Novo, acompanhando os principais ciclos econômicos do regime. As políticas de abastecimento foram elaboradas como um instrumento decisivo para o fortalecimento do governo.
Toda a operação era controlada pelo Estado, que fixava os preços, garantia a mão de obra barata e disciplinada (através de recrutamentos coercivos junto das chamadas Casas de Pescadores), providenciava financiamentos aos navios e armadores e condicionava as importações.
A pesca do bacalhau foi assunto levado à capa do Diário de Notícias a 4 de maio de 1936 relatando a bênção da frota de lugres bacalhoeiros. Exemplo de uma divulgação da Comissão Reguladora sobre as importações de bacalhau entre 1934 e 1937
“O objetivo do Estado era tornar barata a subsistência através de uma proteína de largo consumo que fosse um fator de bloqueio dos salários e de financiamento da paz social”.
(Álvaro Garrido, historiador)
Em 1942, foi implementado um programa de renovação da frota bacalhoeira, que passou de 34 navios (1934) para 77 (1958). Assim, em apenas algumas décadas, mais de 80% do consumo de bacalhau em Portugal era assegurado pela produção interna.
De tal forma, era fundamental para a frota bacalhoeira portuguesa que os homens que se voluntariassem para nela trabalhar, ficando assim isentos do serviço militar obrigatório. O pescador de bacalhau foi elevado à categoria de herói da pátria, herdeiro dos navegadores que haviam levado o nome Portugal além-mar.